segunda-feira, 24 de maio de 2010

De Simples Descobertas à Verdadeiras Invenções




A partir do século XIX, o desenvolvimento das ciências fez com que a filosofia da ciência - a investigação sobre a própria ciência, seus métodos, seu alcance - tendesse a constituir-se numa disciplina autônoma, deixando de ser apenas um aspecto da teoria geral do conhecimento. Vários cientistas voltaram-se para a própria atividade que realizam, procurando defini-la e caracterizá-la. Nessa fase destaca-se o filósofo e economista britânico John Stuart Mill (1806-1873), que estudou os métodos empregados pela ciência para chegar, a partir da observação, às afirmações explicativas de caráter geral, o que podemos chamar de leis, isto é, as leis que regem a ciência, ou melhor, o funcionamento do Universo. Configurava-se fortemente a convicção de que o espírito científico não pode sustentar-se independentemente da experiência: ao contrário, é nela que recolhe o material para suas construções teóricas e é nela que essas construções acabam por se confirmar.

A partir da segunda metade do século XIX, uma série de novas descobertas alteram profundamente o panorama da Ciência. Surgem novas geometrias, ao lado da clássica geometria euclidiana; a física quântica renova o conceito de matéria; a teoria da relatividade do célebre físico alemão Albert Einstein (1879-1955) reformula as noções de espaço e tempo, permitindo uma nova compreensão do universo. Pode-se afirmar que tudo isso é fruto de um novo e sólido espírito científico que tem mostrado que os avanços da ciência são muito mais que descobertas (do que estaria oculto ou mesmo encoberto) - são verdadeiramente invenções, obras de experiência, todavia, também de imaginação e de imensa criatividade disciplinadas e regidas pela lógica, pela exigência de clareza e de coerência.

Um trecho do artigo de Einstein sobre a gravitação generalizada ilustra muito bem tal processo. Diz ele, ao comentar uma das descobertas do grande filósofo grego Leucipo (nasc. cerca de 500 a. C.), considerado um dos fundadores da teoria atomista: "Quando a água gela e se torna sólida, formou-se aparentemente algo distinto da água. Por outro lado, por que, quando o gelo se funde, ele produz algo que não parece diverso da água original? Leucipo embaraçou-se: procurou uma 'explicação' e foi levado a concluir que nesta transformação a 'essência' da água absolutamente não mudara. É possível, então, que a água seja constituída por partículas imutáveis, e que a mudança tenha ocorrido apenas no arranjo espacial dessas partículas. Este exemplo visa ilustrar duas coisas. Que a ideia teórica (o atomismo, no nosso caso) não nasce independentemente da experiência; mas também que ela não pode ser derivada da experiência por um processo puramente lógico. Ela é produzida por um ato criador". Isto é, é na aproximação do pensamento à realidade que ocorre um ato de síntese: um ato criador.

Do mesmo modo que a formação de uma mentalidade científica, no início dos tempos modernos, exigia segundo o filósofo, político e ensaísta inglês Francis Bacon (1561-1626), o combate aos "ídolos" que prendiam o espírito humano a preconceitos e equívocos, assim também a constituição do novo espírito científico, o que acarreta na superação de diversos obstáculos. Disso nasce essa estrutura maravilhosa denominada Ciência (do latim scientia, isto é, conhecimento).
Autor: Eliakim Ferreira Oliveira.